sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

HISTORIAS SOBRE O MONGE DA LAPA- JOÃO MARIA- ( PARTE III )

PARTE-III

Nas sesmarias do Bituruna, o Velhinho causava assombro. Aguardavam-no ansiosamente para a festa de inauguração de São Sebastião das Perdizes, uma cidade santa. Rocha Alves, seu amigo e compadre mais influente, queria edificá-la sob suas bênçãos, e João Maria não se opunha ao convite feito a frei Silvério para rezar a primeira missa.
Frei Silvério, que acudira o apelo do Papa, emigrando para o Brasil, onde faltavam sacerdotes, sofrera concorrência de João Maria na Lapa e agora voltava a perturbar-se em Campos Novos. Quando as coisas começam bem para a Igreja, “surgia aquele monge a virar a cabeça do povo”. A fé do povo na Igreja ficava abalada e até o Bispo se voltava contra ele que, justamente por sua incrível vocação sacerdotal, fora designado para restaurar o prestígio católico. De cidade em cidade, solapava o culto do monge. Logo iria para a União da Vitória onde havia o Morro da Cruz, além das inocentes festas de Sinhana Bita. O fato é que ninguém mais comparecia à missa, trocando-a pelas rezas de um remendão. Mas as taperas que abrigavam João Maria transbordavam de adeptos. Sentado à moda hindu sobre um couro de boi, num tugúrio distante, já o fizera de tolo quando lhe fora ao encontro em seu burrico. João Maria que – segundo ele – não podia ser santo porque não cursara o convento, tachou-o de maçom e protestante, combatendo-o com suas próprias armas. Disse-lhe quem era e de onde vinha:
- “Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires e faz onze anos que tive um sonho que eu devia caminhar pelo mundo durante quatorze anos, sem comer carne nas quartas, sexta-feiras e nem pousar na casa de ninguém.”
Agora, o louro capuchinho exultara com o convite de Rocha Alves – um dos grandes maragatos – porque sabia que João Maria não voltava mais.

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