Utilizando dados de uma frota de cinco satélites científicos,
pesquisadores da Nasa descobriram uma nova manifestação
de clima espacial.
De modo bem simplificado, um terremoto espacial (ou spacequake)
é um forte tremor no campo magnético da Terra e que apesar
de ser observado com mais intensidade na órbita do planeta,
não é exclusivo do espaço e seus efeitos podem se propagar
por todo o caminho até a superfície.
"As reverberações magnéticas podem ser detectadas em todo o globo, da mesma forma que os sismômetros
detectam um grande terremoto",
disse Vassilis Angelopoulos, principal investigador
dos dados dos satélites THEMIS e ligado
à Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
No entender de Evgeny Panov, do Instituto
de Pesquisas da Áustria, "essa analogia é excelente,
pois a energia total contida em um spacequake
pode até superar a energia contida em um
terremoto de magnitude 5 ou 6". Os resultados do
trabalho de Panov já haviam sido reportados
em abril de 2010 na edição do periódico científico
Geophysical Research Letters.
Em 2007, a equipe THEMIS descobriu o precursor
dos spacequakes. A ação tem início na cauda
magnética da Terra, que se estende como uma
biruta à mercê dos intensos ventos solares de
quase 2 milhões de km/h. Segundo o estudo,
em algumas ocasiões essa cauda se estica tanto
que em dado momento se rompe como um
elástico. O resultado é que o plasma do vento
solar armazenado na cauda é "estilingado"
em direção à Terra.
Em mais de uma ocasião, os cinco satélites
THEMIS estavam exatamente na linha de
fogo quando os jatos de plasma foram
arremessados e ajudaram os cientistas a
compreender melhor o fenômeno.
"Agora entendemos o que aconteceu",
disse o diretor do projeto THEMIS, David Sibeck,
do Centro Espacial Goddard, da Nasa.
"Os jatos de plasma disparam os spacequakes, é isso o que ocorre".
Fluxo repetitivo de repercussão
De acordo com o cientista, os jatos se chocam
contra o escudo magnético da Terra a 30 mil
quilômetros acima do equador. O impacto
desencadeia um processo de repercussão em
que o plasma que entra salta para cima e para
baixo no reverberante campo magnético.
Esse processo foi chamado de "fluxo repetitivo
de repercussão" e pode ser comparado a uma
bola de tênis saltando para cima e para baixo
sobre um piso acarpetado. "O primeiro salto é grande,
seguido por uma série de saltos menores que
diminuem à medida a energia é dissipada no tapete",
explicou Sibeck.
"Há muito tempo já suspeitávamos de algo parecido,
mas somente com os novos dados é que o processo
se tornou realmente fantástico", disse o cientista.
"A maior surpresa foi a descoberta de vórtices
de plasma, gigantescos redemoinhos de gás
magnetizado, tão grandes quanto à Terra - girando
à beira do campo magnético trêmulo do planeta".
"Quando os jatos de plasma atinge a magnetosfera
interior, vórtices em sentido oposto aparecem e
desaparecem nas laterais dos jatos", explica
Rumi Nakamura, coautor do estudo junto ao
Instituto de Pesquisas da Áustria.
"Acreditamos que esses vórtices podem
gerar intensas correntes elétricas nas proximidades Terra".
Agindo em conjunto, vórtices e spacequakes
podem ter efeitos perceptíveis na Terra.
De acordo com o estudo, a cauda dos redemoinhos
pode conduzir partículas carregadas em direção à
atmosfera da Terra, provocando auroras e ondas
de ionização que perturbam as comunicações de
rádio e GPS. Ao atingir a superfície do campo
magnético, podem induzir correntes elétricas no solo,
com profundas consequências na rede de
distribuição de energia elétrica.
Antes da descoberta dos jatos e spacequakes,
um grupo de cientistas do Laboratório Nacional
de Los Alamos, liderado pelo pesquisador
Joachim Birn, haviam conduzido simulações
relacionadas ao processo de rebote na
magnetosfera e os resultados já haviam
demonstrado a possibilidade da existência do
fenômeno, agora comprovado. Além disso,
as simulações sugeriam que o processo de
rebote poderia ser visto a partir da superfície
da Terra na forma de auroras e redemoinhos
luminosos na alta atmosfera.
"O trabalho não está terminado e ainda temos
muito a aprender, disse Sibeck. "Ainda não
sabemos como os vórtices giram em torno da
Terra e como eles interagem. Até que tamanho
pode ter um vórtice? Qual a intensidade máxima
de um spacequake?. Esse é um processo bastante
complicado, mas agora tudo começa
a se encaixar", completou.
Artes: No topo, gráfico compara dois eventos
de grande magnitude: Terremotos terrestres
e terremotos espaciais. Segundo as novas
descobertas, os spacequakes podem liberar
tanta energia quanto um terremoto de forte
intensidade. No lado esquerdo vemos os registros
de um spacequake ocorrido em 14 de julho de 2000.
Conhecido como "Evento Dia da Bastilha",
o terremoto espacial foi provocado por uma
das mais violentas explosões solares já registradas,
com índice KP=9, de extrema intensidade.
Acima, vídeo mostra o "fluxo repetitivo de
repercussão" (rebote) e como o vento solar
dispara os spacequakes.
Crédito: Nasa/Walt Feimer/Goddard's
Scientific Visualization Lab./Apolo11.