Tsunami, a catástrofe
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 31/8/2001 .
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.brRenato Sabbatini
Imagine o leitor o seguinte cenário: uma onda de 40 metros de altura (o equivalente a um prédio de 10 andares) chega subitamente à costa norte brasileira, a uma velocidade de mais de 200 km/h. Cidades à beira-mar, como Fortaleza, são em questão de segundos varridas pela onda gigantesca, com uma energia equivalente ao consumo de eletricidade de um mês de todo o Brasil. Prédios e casas são derrubados, os sistemas de eletricidade e telefonia desaparecem, carros são destruídos e dezenas de milhares de pessoas são mortas por afogamento e por trauma. Poucos escapam: os que não morrem na hora são arrastados para o mar quando a onda, depois de invadir a terra firme por alguns quilômetros, recua finalmente.
Essa cena de pavor (que já aconteceu muitas vezes na história da Humanidade) é a conseqüência de um tsunami, palavra japonesa que denomina uma onda formada geralmente por um fenômeno geotectônico submarino (erupção vulcânica, terremoto, etc.). No século XVIII, Lisboa foi destruída por um tsunami, depois de um terremoto. Morreram cerca de 40.000 pessoas, o equivalente a um terço da população da época. O vulcão Krakatoa, ao explodir nos Mares do Sul, gerou um tsunami de "apenas" seis metros de altura. Morreram 30.000 pessoas, em uma zona que normalmente é pouco habitada.
Os cientistas estimaram que a destruição material poderia atingir a casa da dezena de trilhões de dólares. A perda em vidas poderá ser minimizada se houver um aviso prévio de que ocorrerá a erupção, ou em lugares mais distantes, como o Brasil, pelo fato de que a onda demorará várias horas até chegar ao litoral.
A Geological Society, uma vetusta e seriíssima sociedade científica do Reino Unido, da qual fazem parte os mais eminentes geólogos do mundo, achou a situação tão ameaçadora que resolveu formar uma comissão e lançar um aviso para os governos de todos os países que eventualmente ficarão no rastro da destruição.
No momento, o vulcão está inativo, e não há indícios de que esteja aprontando algo. Os cientistas instalaram um sistema super-acurado de medidas de distância, que percebem quando a terra sobre o vulcão "incha", o que quase sempre é prenúncio de uma erupção. Mas predições geológicas são notoriamente incertas: a taxa de sucesso é de menos de 60%. Por esse motivo, os especialistas acham que as populações ribeirinhas do Atlântico Norte e do Caribe devem preparar planos de contingência.
Agora imaginem a confusão e a dificuldade que deve ser evacuar uma cidade do tamanho de Fortaleza, ou um estado inteiro em risco, como a Flórida, em apenas 3 a 4 horas… O problema é que o ser humano não acredita em catástrofes que ainda estão muito no futuro. Todo mundo acha que não vai acontecer. Basta ver o que acontece toda vez que um terremoto sacode o Japão, ou a Califórnia, ou a América Central, lugares de alto risco, sabido e conhecido. Ninguém arreda pé de lá, e um fenômeno bem mais forte que o usual acaba sendo extremamente destrutivo. É o que veremos acontecer, agora, ou em futuro distante, com a ilha Las Palmas.
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